quinta-feira, 8 de maio de 2014

Brasil não tem data para sair do Haiti


Em meio a uma crise nacional devido à chegada em massa de haitianos ao Brasil, a Missão de Paz das Nações Unidas para a estabilização do país caribenho completa 10 anos sem uma data definida para ser encerrada. Em abril de 2004, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a criação da Minustah para tentar conter uma guerra civil promovida por gangues políticas no Haiti.


Por questões políticas e estratégicas, o Brasil assumiu o comando militar e já investiu mais de R$ 2 bilhões nesse trabalho, sendo que apenas 30% foi reembolsado pelas Nações Unidas.
Os números relacionados à violência indicam que o Haiti atingiu o status de um país pacífico, com índices melhores que o de algumas cidades brasileiras. As mortes violentas, por exemplo, não chegam a 30 por mês em todo o país.
“Os números são frágeis e podem se deteriorar rapidamente por uma falha institucional. Para a Missão sair daqui, precisamos ter certeza de que o governo do Haiti saberá conduzir os destinos do país”, avalia o comandante militar da Missão da ONU, general brasileiro José Luiz Jaborandy Junior.
Atualmente, 1.450 membros das Forças Armadas do Brasil trabalham no Haiti. Os contingentes se revezam a cada seis meses. Em 10 anos, 31.832 brasileiros já atuaram na Missão.

Um dos principais objetivos da Minustah é fortalecer a polícia haitiana, que hoje conta com 11 mil homens, o dobro do efetivo há uma década. “Temos visto progresso na atuação da polícia e nossa meta é chegar a um a um mínimo 15 mil policiais. A missão vive um período de consolidação e passará por uma fase de reconfiguração a partir de 2016”, diz Sandra Honoré, representante da ONU para o Haiti.

Pobreza
Se a segurança é considerada estável, a pobreza e a falta de emprego ainda são problemas latentes na capital Porto Príncipe.
É no distrito de Cité Soleil que o Haiti faz jus ao título de país mais pobre das Américas. A carência salta aos olhos e contrasta com o azul do Mar do Caribe. Nesse cenário, tomado de favelas e um forte odor por causa do lixo e da falta de saneamento, o pequeno Mansler, de oito anos, segura nos braços a irmãzinha de apenas dois. “Eu cuido dela para minha mãe buscar a vida”.
A expectativa de vida é de 56 anos e praticamente não se veem idosos nas ruas. A ausência do poder público haitiano faz com que 80% da população do Haiti viva abaixo da linha da pobreza, com apenas um dólar por dia. Até por isso, qualquer demanda em Cité Soleil é em grande escala. “Se você consegue 500 brinquedos para doar, aparecem mil crianças. Mas se tiver mil brinquedos, aparecem duas mil e por aí vai”, relata o capitão do exército brasileiro, Márcio Ribas.

Terremoto
Mais de quatro anos depois do terremoto que matou 220 mil pessoas, Porto Príncipe é uma cidade literalmente em construção. Um dos maiores símbolos disso são os milhares de caminhões que tomam as ruas da capital e tornam o trânsito ainda mais caótico e imprevisível. Dos mais de 1,5 milhão de desabrigados, 90% já deixaram os campos de deslocados, mas ainda existem cerca de 300 desses acampamentos pelo país.

A fome diária ainda é uma realidade para um terço da população haitiana. Segundo o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, uma em cada cinco crianças sofre de desnutrição crônica. Para tentar driblar o problema, a família da jovem Délange Nicolas criou há mais de 20 anos o biscoito de barro: “Usamos manteiga, água, terra e sal e vendemos nos mercados. Quando a gente come e toma água, ajuda a diminuir a fome”.
Mesmo com tantas dificuldades, a maior parte dos haitianos vive com sorriso no rosto e recebe muito bem cada visitante. Outro fator que chama a atenção são as roupas, que estão sempre impecáveis, não importa a classe social. Principalmente o uniforme das crianças. O tradutor do batalhão brasileiro, Chamin Ajan, acredita que isso tem a ver com a colonização francesa. “É a presença da França na nossa cultura, gostamos de estar sempre bem vestidos. Como eu (risos)”.

Fonte > BOA INFORMAÇÃO/montedo.com

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