quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Forças Armadas estão vacinadas quanto à política, diz novo ministro da Defesa

O general Fernando Azevedo e Silva, assessor do ministro presidente do STF, Dias Toffoli, e indicado por Bolsonaro para o Ministério da Defesa do novo governo – Pedro Ladeira – 14.nov.2018/Folhapress
Novo Ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva afirma que militares não têm protagonismo no país, mas sim ‘reconhecimento’
Laís Alegretti

BRASÍLIA
Futuro ministro da Defesa do governo Jair Bolsonaro, o general da reserva Fernando Azevedo e Silva, 64, diz que as Forças Armadas estão vacinadas em relação à política.

Assessor do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, o general considera que a imagem do Exército não está “colada” à de Bolsonaro, que é um capitão reformado e tem um general da reserva como vice.
Azevedo e Silva declarou que a escolha do próximo comandante do Exército não obedecerá necessariamente critério de antiguidade, que levaria à escolha do general Edson Leal Pujol.


O Alto Comando do Exército tem defendido descolar imagem das Forças Armadas do governo Bolsonaro. Como fazer isso? Não existe descolar porque não está colado. As Forças Armadas estão vacinadas em relação à política. Estamos muito vocacionados para nossa atividade-fim, que é cumprir o Artigo 142 [defesa da Pátria, garantia dos poderes constitucionais e da lei e da ordem].

Com um capitão reformado na Presidência e um general da reserva na vice, há como os militares não se enxergarem no Planalto? Esse governo foi eleito pelas regras democráticas. Eles têm origem e formação militar, que é boa. Pregamos valores de companheirismo, disciplina, hierarquia. Estão aí legitimados pelo voto, não pela origem.
Um nome do Exército para a Defesa causa mal-estar com outras forças? 
Não tem mal-estar. A partir do momento que fui convidado, imediatamente os comandantes das três forças me ligaram parabenizando. Nas Forças Armadas, temos uma coisa muito positiva: a partir do momento que tem a decisão, todo mundo entra no mesmo barco.
Quem entra no lugar do senhor como assessor especial de Toffoli? Não pensamos em nomes. Toffoli já manifestou a vontade de ter outro militar aqui.

O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente eleito, disse que para fechar o STF bastam “um soldado e um cabo”. O que achou? Foi em um contexto específico e ele já pediu desculpas. Esse é um assunto encerrado.

A sua saída da equipe de Toffoli para ir para a Defesa fortalece a relação do presidente eleito com o presidente do STF? Fortalece, porque já fiz um vínculo aqui nesses dois meses, particularmente no gabinete do ministro. Esse canal está estabelecido [do Executivo de Bolsonaro com presidência do STF].

O que motivou a ida do general Heleno para o GSI? 
Heleno é meu amigo mais velho desde o colégio militar e é um dos oficiais mais brilhantes que eu conheço. Acho que ele foi trocado por causa disto: ficando mais próximo, com contato diário com o presidente, será muito útil.

Bolsonaro é uma liderança militar? 
Não. Ele é uma liderança atualmente política, com origem militar. É lógico que os militares o admiram muito.

A escolha do próximo comandante do Exército vai obedecer o critério de antiguidade e será o general Pujol? 
Ainda estamos conversando. Hoje foi meu primeiro dia como indicado e estou começando a pensar. Tive a primeira conversa com ele hoje.

Qual é o critério para ser comandante? 
Tem que ser um oficial general do último posto e será definido pelo comandante supremo das Forças Armadas —o presidente—, ouvido o ministro da Defesa.
Não necessariamente o Pujol. Não necessariamente. O Pujol tem plenas condições de ser, assim como os outros. Quem está sentado na mesa do Alto Comando tem todas as condições de comandar a sua força.

Quais outros nomes são possíveis? 
Esse nome você não vai me arrancar. Todos os nomes dentro dessa regra —e poderia inclusive ser da reserva.

O Exército teria agido se o STF tivesse libertado o Lula, como sugeriu o comandante Villas Bôas? 
Ele não quis dizer isso. Villas Bôas é um democrata, sabe o papel do Estado, da importância do Judiciário.
E se tivesse acontecido outro resultado? Não aconteceu outro resultado.

Quando o sr. estava trabalhando com Toffoli, ele disse que preferia chamar de “movimento” em vez de “golpe” o que deu início à ditadura. Como o sr. recebeu isso? 
Foi uma interpretação dele, ele é estudioso, gosta de história, ele justificou por que chamou de movimento. Não vou entrar em detalhes. Aquele período de governos militares faz parte da história e tem que ser encarado como história.

Os militares estão dispostos a negociar mudanças na Previdência —que vocês não gostam de chamar assim? 
Sempre tivemos abertos ao diálogo, militares não são uma casta fechada. Tem que ser reconhecido que nós não temos o sistema previdenciário, temos uma proteção social que dá amparo às peculiaridades da carreira. Se eu ganhar hora extra ia ser ótimo, mas a gente não ganha. Tem que ter uma compensação social.

Os militares têm reclamado de salário defasado. O sr. vai brigar por isso? É muito defasado, mas tem que ver o esforço que o governo vai fazer para retomar a economia. É um assunto que tenho que ver quando chegar ao ministério.

Como tem visto a relação de Bolsonaro com a imprensa? Democracia é imprensa livre. Quem não deve, não teme, tem que receber e falar com a imprensa. Isso no meu caso. No dele, pergunte a ele.

A que atribui o protagonismo dos militares hoje? 
Não é protagonismo, é reconhecimento. Todas as pesquisas mostram um grau de confiança nas instituições militares altíssimo, sempre nos primeiros lugares. A gente dá prioridade à formação. Pode faltar dinheiro para munição, para lanche, mas não para isso.

FOLHA DE SÃO PAULO/montedo.com

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