A turma de 2000 do Mackenzie ainda deve se lembrar daquela loja improvisada dentro de um estacionamento vizinho à faculdade, que vendia sapatos femininos e tênis a preços bem convidativos. Tinha um nome invocado, Netshoes, apenas dois vendedores, armênios, e dois sócios, também descendentes de armênios. Pois “o lojinha” cresceu, abriu filiais em academias, ganhou os shopping centers, e quando ameaçava decolar no varejo tradicional, os donos decidiram mudar tudo. Venderam os pontos, invadiram o comércio eletrônico e transformaram a Netshoes em um caso único da internet brasileira. A empresa vem dobrando de tamanho nos últimos anos.
Em 2009 faturava R$ 155 milhões. Até dezembro, as vendas devem bater em R$ 1 bilhão, resultado de fortes investimentos em marketing e diversificação – incluindo a estreia no mercado internacional e o aumento do número de itens em sua prateleira eletrônica, até aqui restrita a tênis, jaquetas e maiôs. Se chegar ao R$ 1 bilhão, a empresa se junta a B2W (dona do Submarino e da Americanas.com) e a Nova Pontocom (responsável pelos sites do Pão de Açúcar e Casas Bahia) no seleto grupo das pontocom brasileiras com receitas de sete dígitos. Mais surpreendente, porém, é que as rivais são generalistas (vendem de protetor solar a fogões) e estão apoiadas pelas maiores empresas do varejo brasileiro. A Netshoes é independente e especialista em artigos esportivos.
O dono do negócio é Márcio Kumruian, um paulistano de 38 anos, que resolveu empreender quando trabalhava como gerente de uma loja de calçados em São Paulo. Em 2000, ele juntou as economias, convenceu um primo a apostar em seu projeto (esquivos, ambos se recusam a dar entrevista) e partiu para a loja própria. O espaço no estacionamento, no centro de São Paulo, foi arrendado por um tio – o mesmo que lhe deu a dica sobre a clientela do Mackenzie. E o nome surgiu num almoço de família, sugestão de uma tia antenada com as coisas da internet. Márcio adotou o prefixo Net, mesmo operando uma loja de rua e sem ter nenhum plano de vender sapato pela web. Mas vai que um dia...
A primeira versão do site Netshoes apareceu em 2002. Cinco anos depois, veio a decisão que mudaria a trajetória da marca: a web dava resultados tão expressivos (70% das vendas na ocasião) que não valia a pena manter abertas as oito lojas físicas. Se insistisse no varejo de cimento e tijolo, dificilmente a empresa teria escala para elevar seu faturamento em tão pouco tempo. Visionária, a tia do Márcio.
A Netshoes é, hoje, o maior símbolo do crescimento das empresas de nicho no comércio eletrônico brasileiro. Enquanto B2W e Nova Pontocom brigam pelo topo do varejo online (leia a próxima reportagem), dezenas de categorias antes inexpressivas passaram a contar com duas ou três lojas nos últimos três anos. Se até bem pouco atrás era impossível comprar itens para bebês, hoje você consegue encomendar fraldas na Baby.com.br ou na Bebê Store.
O mesmo fenômeno se observa com sapatos (Dafiti, Shoes4You e Calçados.com.br) e roupas femininas (Roupas.com, OQVestir e GlossyBox), móveis (Mobly e Oppa) e moda unissex (Divamos e TheLuxnet). Todos os sites fundados para aproveitar esta “verticalização” têm como referência pontocons com mais de uma década que dominaram seus nichos: notoriamente a Sack’s, loja de cosméticos comprada pelo conglomerado de luxo LVMH em 2010, e a Netshoes.
Fonte > época negócios
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