Quer entender a revolução digital e como as empresas e pessoas estão se encaixando neste contexto? Confira a entrevista com Gil Giardelli, professor da ESPM
Por que é tão difícil implementar em algumas empresas a revolução e transformação de antigas crenças e estratégias voltadas para o ser humano, como ser integral, que necessita equilibrar corpo, mente, alma e espírito? Enviada por Silvia Silveira
Por que é tão difícil implementar em algumas empresas a revolução e transformação de antigas crenças e estratégias voltadas para o ser humano, como ser integral, que necessita equilibrar corpo, mente, alma e espírito? Enviada por Silvia Silveira
Gil Giardelli: Por que vivemos em um hiato de séculos! Modelos organizacionais do século XIX e pessoas com anseios do século XXI, porém, a mudança é lenta e estrutural. Empresas começam a calcular o FIB (Felicidade Interna Bruta) de seus colaboradores, outras empresas calculando “Índices de Inovação e Criatividade”, federações patronais criando “Conselho de Economia Criativa”. Outras empresas incentivando a colaboração coletiva (chão de fábrica e alta gestão).
Ou seja, vivemos o início da economia do terceiro milênio. Uma “Mudança de paradigmas para assimilar e transitar num novo mundo, onde a tecnologia cresce de maneira exponencial. Sem espaço para pensamento linear e cartesiano. Sem espaço para individualismo. Inovar, solidarizar-se, atuar socialmente e emprender”, blogou Ana Lúcia Pompermaye.
Um dos temas do Marketing 3.0 é a grande influência que as Redes e Mídias Sociais passaram a ter sobre a decisão de compra do consumidor. Antes, o consumidor pedia a opinião para dois ou três amigos sobre um determinado produto ou determinada empresa. Agora, com as redes sociais são milhares de "conselheiros" que ele tem a disposição para ajudá-lo na hora da compra. Para uma empresa que pertence a um setor com um grande número de registros em órgãos de defesa do consumidor, como bancos, telefonia e operadoras de saúde, qual seria a melhor opção: aderir as redes ou permanecer apenas nos outros meios de comunicação? Enviada por Ramon Felippe Bonfim Marendaz
Gil Giardelli:
As empresas não entrarem nas redes sociais, equivale à discussão se elas deveriam ter telefones na mesa de cada colaborador na década de 70, fax na década de 80 e e-mail na década de 90. Não participar das mídias sociais é perder competitividade, potencial criativo e inserção no século XXI.
Para incrementar, ao contrário da Europa e Estados Unidos, no Brasil as pessoas fazem negócios com pessoas! Executivos de vendas levam suas agendas e contatos para sua nova empresa. Enquanto nos outros países, os negócios são – em sua grande maioria – de empresas para empresas.
E no mais, na era da democracia digital sai o consumidor e entram pessoas com seus anseios. Demoramos a entender isso. O consumidor existiu na era da TV, quando você comprava uma TV tornava-se mais um consumidor. Na era digital as pessoas compram qualquer aparelho conectado a Internet e se tornam um produtor. Portanto, saem os consumidores e entram as pessoas engajadas! E o grande negócio do século XXI é como transformar as pessoas em advogados de marcas.
Consigo visualizar facilmente a efetividade da utilização de mídias digitais para empresas de B2C, que possuem um relacionamento direto com o consumidor final. Contudo, quando falamos em B2B, e relacionamento entre empresas, como pode-se delinear uma estratégia de inovação digital? O senhor poderia dar exemplos de empresas que conseguiram trabalhar com redes sociais nessa área?
Para incrementar, ao contrário da Europa e Estados Unidos, no Brasil as pessoas fazem negócios com pessoas! Executivos de vendas levam suas agendas e contatos para sua nova empresa. Enquanto nos outros países, os negócios são – em sua grande maioria – de empresas para empresas.
E no mais, na era da democracia digital sai o consumidor e entram pessoas com seus anseios. Demoramos a entender isso. O consumidor existiu na era da TV, quando você comprava uma TV tornava-se mais um consumidor. Na era digital as pessoas compram qualquer aparelho conectado a Internet e se tornam um produtor. Portanto, saem os consumidores e entram as pessoas engajadas! E o grande negócio do século XXI é como transformar as pessoas em advogados de marcas.
Consigo visualizar facilmente a efetividade da utilização de mídias digitais para empresas de B2C, que possuem um relacionamento direto com o consumidor final. Contudo, quando falamos em B2B, e relacionamento entre empresas, como pode-se delinear uma estratégia de inovação digital? O senhor poderia dar exemplos de empresas que conseguiram trabalhar com redes sociais nessa área?
Enviada por Larissa Nunes
Gil Giardelli: Ainda é embrionária a utilização no B2B, porém várias empresas globais estão desenvolvendo ações em redes sociais para construir reputação, ferramenta educacional, destacar-se da multidão (concorrência), investigar comportamento dos clientes e concorrentes e aprender com os outros.
A IBM hoje é a empresa que mais utiliza redes sociais para construir negócios B2B. Um terço dos seus funcionários, espalhados em 140 países, são grandes usuários de redes sociais e do crowdsourcing. A gigante Sodex, líder no setor de serviços alimentícios utiliza a ferramenta para fazer recrutamento.A Petrobras no Brasil utiliza redes sociais fechadas para discutir pré-sal e efetivar gestão de conhecimento.
A 37signal utiliza seu blog como ferramenta educacional B2B. O Hospital Israelita Albert Einstein, utiliza redes sociais para propagar estudos clínicos, mensagens de integração entre médicos e colaboradores. É tudo muito novo, então lembre-se, ser o segundo é ser o primeiro dos derrotados. Inove agora, este é o momento.
No contexto da inclusão digital e do Marketing 3.0, você acredita que as empresas procurando focar mais no ser humano e menos no consumidor devem ter uma abordagem mais holística e pessoal? Elas devem se preocupar também com o bem estar e aconselhamento de seus prospects e clientes em questões diversas e não somente com assuntos específicos ao seu segmento de atuação?
Enviada por Fernanda Terra
Gil Giardelli: A economia global está em transição: acaba a era da informação, começa a era da criatividade. São novas formas: propriedade intelectual, Economia Criativa, capital cultural, capitalistas sociais, Indústria de ideias, Sustentabilidade, negócios sociais, missões sociais, Pensamento verde, Liberdade de consciência.
Se você é uma empresa do setor automobilístico, falar apenas do seu produto é chato. Você pode falar de urban style, cultura, moda. Dar dicas de trânsito, dicas de viagem e de entretenimento. Se não, seremos o amigo chato, que sempre que encontramos ele fala só de si e não pergunta como você está.
Atualmente trabalho em uma companhia que oferece soluções integradas de sistemas (ERP + Core Business), totalmente voltada para o setor de agronegócio. Fazendo uma análise setorial, vemos que o mercado de ERP encontra-se em estágio de crescimento e, quando analisando apenas as grandes organizações, podemos até concluir que já estão em níveis de maturidade. Se tratando do mercado agropecuário podemos observar uma diferença brutal nesta análise, visto que o setor ainda está em fase de introdução do produto, porém com uma peculiaridade muito grande dos demais setores da economia: o produtor rural tem uma barreira cultural muito grande em relação à adoção deste tipo de tecnologia. Atualmente o produtor rural investe muito em ferramentas e maquinários, porém quase nada em gestão. Estudos realizados pela EMBRAPA dizem que em torno de 80% dos produtores nacionais, não utilizam se quer um computador para fazer gestão de seus negócios. Neste contexto, podemos ver que a gestão agropecuária nacional não se encontra de maneira alguma, sequer aos padrões do século atual. Como então podemos iniciar um processo de inovação digital em um mercado com tamanha barreira cultural como a do agronegócio? Enviada por Leonardo Borges
Gil Giardelli: Para este tipo de indústria, o melhor caminho é a educação. Criação de workshops, grupos de estudos, apresentação de cases, intercâmbios internacionais de ações inovadoras. E como contra fatos, não há argumentos números e dados de concorrentes em outros países são importantes.
Como fazer com que todos os funcionários de uma empresa se preparem e colaborem com a inovação digital? Enviada por Gustavo Haruo Fukutaki
Gil Giardelli: Liderar a inovação digital nas empresas, primeiramente deve ser uma atitude da presidência da empresa. Se os principais executivos não acreditarem no processo, nada avançará. Depois, devemos entender que inovação há curto prazo será um investimento, e como vivemos na ditadura da planilha do Excel, muitas empresas só pensam por trimestres, ainda enxergamos aquele mundo onde você diz: “tive uma grande ideia para o futuro da empresa.” Alguém responde: “respire fundo que passa.
Sou mestrando em engenharia de produção na UNESP/Bauru-SP e minha pesquisa é na área de gestão da inovação, mais precisamente, o envolvimento de usuários no processo de inovação por meio de tecnologias da web 2.0. Meu estudo de caso é o Fiat Mio, lançado recentemente no salão do automóvel em São Paulo. Um caso único na indústria automobilística e open innovation e envolvimento de usuários. Baseado nisso, minha pergunta é a seguinte: "Quais as competências necessárias as organizações precisam para implementar projetos de open innovation utilizando os recursos existentes na web 2.0?"
Enviada por Sergio Mazini
Gil Giardelli: Antigamente acreditava-se que inventores eram gênios solitários. Uma série de pensadores acredita no conceito de inovação e invenções simultâneas, onde empresas e clientes são “colônias de diversos criadores que interagem e influenciam uns aos outros. O Fiat Mio foi uma invenção coletiva e devemos entende-lo como um exterminador de paradigmas. Há poucos anos, protótipos de carros eram guardados a sete chaves. Este foi colocado no Youtube. A montadora entendeu que o grande negócio do século XXI é o open source, a sabedoria das multidões. Para uma empresa entrar nesta era deverá desmontar paredes, quebrar egos, colocar jovens em seu conselho e perceber que a inovação não está nas salas das reuniões da diretoria. Na maioria das vezes está no chão de fábricas ou nas ruas das megalópoles.
Por que as pessoas evoluem mais rápido do que as empresas, se as empresas são grupos de pessoas? Quando se pensa em inovação dentro das empresas, qual o caminho mais fácil de se trilhar: demite boa parte de quem deveria pensar em inovação e contrata sangue novo, ou quebra seus paradigmas e constrói uma nova cultura? Enviada por Bruno Figueredo.
Gil Giardelli: Steven Johnson em seu novo livro descreve: invenção simultânea como “casos em que várias pessoas vêm com a mesma ideia em quase exatamente o mesmo tempo.” Descobertas como o cálculo, a bateria elétrica, o telefone, a máquina a vapor, o rádio, inovações revolucionárias onde vários inventores trabalharam em paralelo, sem conhecimento um do outro. A inovação vem de cenas sociais, de grupos ligados e apaixonados.
Além das empresas, o magnata e ex-professor da Harvard Business School John Sviokla, defensor de tecnologias disruptivas, open innovation, reputação corporativa e reputação on-line escreveu lúcido artigo “A mídia social, representa a transformação do capitalismo como nós o conhecemos”. Para ele, os pilares do capitalismo são a absorção coletiva do risco e a capacidade de se auto-organizar. E descreve as três ondas de capitalismo.
1ª Onda do capitalismo – Criar novos empreendimentos no novo continente, a América.
2ª Onda do capitalismo – Empreendedores individuais como Henry Ford, Louis Chevrolet (GM), Alexander Graham Bell (At&T), Dupont, e recentemente Bill Hewlett e David Packard (HP) e suas inovações individuais, ferrovia e telégrafo. (Demanda e gestão)
3ª Onda do capitalismo – Era digital – Transporte de dados, infraestrutura global, sabedoria das multidões, inovação disruptiva e coletiva, consumo coletivo, a absorção coletiva de risco, o financiamento coletivo – “Um excelente exemplo é o YouTube, fundado por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, todos ex-alunos do PayPal (Outra empresa da 3ª onda). Combina com o que eu tennho dito em palestras há 10 anos – Passamos pela Humanidade 1.0 – Agrícola, Humanidade 2.0 - Industrial, a Humanidade 3.0 -Tecnológica, a Humanidade 4.0 Cyber-espiritual e hoje vivemos o mix de todas as humanidades na 5.0 - a Democracia das redes sociais.
Sou Gerente de Marketing da Voltts, empresa que desde 1992 atua como importador e distribuidor de diversos fabricantes internacionais no Brasil. Nosso foco de atuação é na distribuição de componentes eletrônicos para a indústria eletroeletrônica brasileira.Como aplicar as mudanças do Marketing 3.0 em uma empresa voltada para o B2B, que distribui um produto de compra extremamente técnica a indústria brasileira, sendo que seus clientes vão desde grandes multinacionais, onde o processo seria muito mais fácil de ser aplicado, até pequenos técnicos em eletrônica, que ainda não tem acesso à e-mail, por exemplo. Como estar preparado para atender aos dois públicos ao mesmo tempo, sem no entanto se desfazer de nenhum deles, uma vez que ambos são lucrativos para a empresa? Enviada por Fernando Rossini
Gil Giardelli: Fernando, parte desta pergunta foi respondida nas questões acima. Seria muita presunção achar que todos os clientes devem ser impactados pelas mídias digitais. Devemos respeitar aqueles milhares no Brasil que ainda preferem impressos, TV, rádio, contato do vendedor etc. Está é a grande complexidade, a comunicação é multicanal, em duas vias e sem barreiras. Agora, está em suas mãos para entender cada cluster de clientes e aplicar a melhor forma de marketing.
Fonte: Portal HSM
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