Depois da pacificação do Haiti, o general brasileiro Carlos Santos Cruz assume um desafio ainda maior: comandar a operação da ONU que quer pôr fim à sangrenta guerra civil do Congo
Pedro Marcondes de Moura
O general Santos Cruz terá sob seu comando 20 mil soldados de 51 nacionalidades
Ao desembarcar na República Democrática do Congo no domingo 2, o general brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz voltou a ocupar um posto almejado por militares em todo o mundo: o comando de uma operação de paz das Nações Unidas. O desafio, porém, promete ser bem maior do que quando concluiu a pacificação na capital haitiana de Porto Príncipe entre 2007 e 2009. Em solo africano, Santos Cruz, de 61 anos, enfrentará um país assolado por uma guerra civil de verdade. Ingredientes que vão além da disputa pelo poder, como diferenças étnicas, conflitos religiosos, controle de riquezas naturais e intromissão de países vizinhos, fizeram da nação africana um verdadeiro barril de pólvora. No total, 55 pessoas, entre civis e militares, ligadas à operação das Nações Unidas já morreram vítimas dos mais de 30 grupos armados em ação. Um deles, o agrupamento rebelde Movimento 23 de Março (M23), formado por ex-militares, contaria com o apoio da vizinha Ruanda. No ano passado, chegou a controlar a cidade de Goma, a mais importante do leste do país.
Para resolver o conflito, o general Santos Cruz terá sob seu comando um efetivo de cerca de 20 mil soldados, de 51 nacionalidades.
Para resolver o conflito, o general Santos Cruz terá sob seu comando um efetivo de cerca de 20 mil soldados, de 51 nacionalidades.
O Brasil, participante de operações da ONU no Haiti e no Líbano, não enviará tropas. Entre os integrantes, há um efetivo especial de 3.000 homens com a missão de realizar ações ofensivas no combate de grupos rebeldes. Eles representam uma nova mentalidade empregada em missões de paz pela ONU. Se antes as ordens de comando se limitavam a medidas defensivas ou de mediação, neste conflito entende-se que táticas de ataque podem e devem ser usadas na manutenção da estabilidade local. “Tenho 44 anos de Exército e pensei que o Haiti seria o grande desafio da minha carreira, mas essa nova missão é algo maior”, disse o comandante.
Segundo Ricardo Seitenfus, representante especial do Secretário Geral da OEA, a escolha de Santos Cruz se deve mais a seus méritos pessoais do que à crescente influência do Brasil em organismos internacionais. “Ele demonstrou ser uma pessoa sensata e qualificada na missão do Haiti”, opina Seitenfus. A opinião é compartilhada por Expedito Bastos, pesquisador de assuntos militares da UFJF. “O convite mostra que temos bom militares, mas o reconhecimento internacional do Brasil no contexto das Forças Armadas só se dará quando atuarmos em conflitos de maiores proporções”, avalia Bastos.
Foto: LOGAN ABASSI/AFP PHOTO – UNITED NATIONS PHOTOS
Via: ISTO É/montedo.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário