Recuperação da capacidade operacional custará R$ 11 bilhões até 2022.
Exército tem 7 grandes projetos para superar atual quadro de defasagem.
Tahiane Stochero
Do G1, em São Paulo
Diante do atual quadro de defasagem, o Exército brasileiro criou plano para total recuperação e modernização de equipamentos e tecnologias em 10 anos, ao custo de R$ 11 bilhões. "O ano de 2022 é considerado um marco temporal para nós. Pretendemos que o processo de recuperação termine até lá", afirma o general Walmir Almada Schneider Filho, que coordena os estudos no alto comando da Força, em Brasília.
O G1 publica, ao longo da semana, uma série de reportagens sobre a situação do Exército brasileiro quatro anos após o lançamento da Estratégia Nacional de Defesa (END), decreto assinado pelo ex-presidente Lula que prevê o reequipamento das Forças Armadas. Foram ouvidos oficiais e praças das mais diversas patentes - da ativa e da reserva -, além de historiadores, professores e especialistas em segurança e defesa. O balanço mostra o que está previsto e o que já foi feito em relação a fronteiras, defesa cibernética, artilharia antiaérea, proteção da Amazônia, defesa de estruturas estratégicas, ações de segurança pública, desenvolvimento de mísseis, atuação em missões de paz, ações antiterrorismo, entre outros pontos considerados fundamentais pelos militares.
Militares em treinamento para situação de confronto em cidades brasileiras (Foto: Tahiane Stochero/G1) |
"E eu não tenho dúvidas que o soldado de 2022 tem que estar muito mais capacitado e estudado para operar toda essa rede de equipamentos e tecnologia avançada que teremos”, projeta o general. Para ele, o Exército está atualmente em um "processo de transformação”.
Para atender aos principais pontos de preocupação elencados pela Estratégia Nacional de Defesa, publicado em 2008, os militares criaram sete grandes projetos: o sistema de monitoramento das fronteiras, a proteção de estruturas estratégicas, a defesa cibernética, a recuperação da capacidade operacional, a defesa antiaérea, o sistema de lançamento de foguetes e mísseis e a substituição dos antigos blindados pelo novo - o Guarani.
"Não tenho dúvidas que o soldado de 2022 tem que estar muito mais capacitado e estudado para operar toda essa rede de equipamentos e tecnologia avançada que teremos"General Walmir Almada Schneider Filho
“Nos países desenvolvidos, são os princípios e a doutrina que ditam a arma e a tecnologia que o combatente precisa. Aqui, teremos um processo inverso. Nessa primeira fase, vamos fazer a modernização, para recuperarmos a capacidade de operar. Esses novos equipamentos irão fazer com que mudemos nosso modo de ação, nossa visão de emprego. Vamos testar novos conceitos, novas capacidades. E isso nos obrigará a rever nossa doutrina”, afirma Schneider Filho.
Outra ideia do Exército é trocar por militares temporários, até 2030, pelo menos 20 mil oficiais e praças que estão no serviço administrativo. Os novos contratados passarão a realizar tarefas de contabilidade, recursos humanos, administração, jornalismo, entre outros. A contratação de trabalhadores temporários tem como objetivo não impactar os custos do balanço previdenciário da Força. Um projeto piloto já está em execução no Rio de Janeiro.
“Para ganharmos pessoal, vamos primeiro racionalizar dentro do próprio Exército. Tirar homens e mulheres do administrativo e trazer para o combate”, diz o general.
"Havendo qualquer problema em qualquer cenário pelo mundo, como terremotos, furacões, incidentes internacionais, temos condições de mandar [ajuda]"General Walmir Almada Schneider Filho
Outra intenção é criar uma "força expedicionária": tropas preparadas permanentemente para atuar em calamidades e emergências humanitárias pelo mundo. "Há uma demanda crescente de militares que estejam prontos para essas situações, que são imprevisíveis", afirma Schneider Filho.
"O que pretendemos é ter tropas adestradas, que ficariam teoricamente hipotecadas. Havendo qualquer problema em qualquer cenário pelo mundo, como terremotos, furacões, incidentes internacionais, temos condições de mandar [ajuda]", diz o general.
Veja abaixo os principais pontos da Estratégia Nacional de Defesa (END) que estão sendo desenvolvidos pelo Exército:
1- Recuperação da capacidade operacional
Propõe que seja comprado um novo fuzil funcional, o IA2, produzido pela empresa brasileira Imbel, que está sendo testado por unidades nas fronteiras. Prevê a modernização de helicópteros e de blindados já existentes, além da aquisição de embarcações, munições, armamentos e equipamentos. Barcos blindados já estão sendo comprados da Colômbia para patrulhar a Amazônia.
2- Defesa cibernética
É competência do Exército desenvolver a proteção cibernética no país, ampliando a capacidade de preservar estruturas estratégicas - como aeroportos e usinas - de ataques. O Centro de Defesa Cibernética (CDCiber), criado em Brasília há dois anos, receberá em 2012 mais de R$ 120 milhões em recursos.
Durante a Rio+20, realizada em junho, o CDCiber não conseguiu impedir as invasões e a queda de sites do governo. Conforme o Livro Branco, texto que descreve os objetivos da defesa brasileira, o CDCiber ainda precisa de sede definitiva, equipamentos e pessoal capacitado, além de adquirir tecnologias e softwares para a defesa cibernética.
3- Proteger
O plano para proteção de infraestruturas estratégicas de serviços, comunicações, transportes e economia deve ser concluído em 2013. Segundo o Exército, 90% das estruturas estratégicas do país estão em terra, sendo responsáveis por 96% do PIB brasileiro. Militares do Paraná receberão novos equipamentos para proteger a Usina de Itaipu. Também serão levadas para a região da usina as primeiras unidades do novo blindado - o Guarani.
4- Sisfron
O Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras pretende monitorar e vigiar as divisas do país em tempo real, além de garantir resposta rápida para qualquer risco. Está atualmente em fase de licitação para a instalação de um piloto, em Mato Grosso do Sul, que será baseado na 4ª Brigada de Infantaria Motorizada, em Dourados. O custo total estimado do projeto é de R$ 12 bilhões até 2030.
5- Amazônia
Em más condições, abrigo para barcos na fronteira tem danos na estrutura (Foto: Tahiane Stochero/G1) |
Possui hoje 21 unidades de atuação nas fronteiras do país. A intenção é que outros 28 pelotões sejam construídos até 2030 e que as bases já existentes tenham melhorias em infraestrutura, saneamento e rede de energia, para que os militares possam morar com os familiares. Até o fim de 2012, chegam a Manaus oito novos helicópteros.
6- Defesa antiaérea
Projeto que pretende atualizar o sistema de artilharia está em fase de definição de tecnologia para divulgação às empresas interessadas em participar da licitação. As unidades deverão ser equipadas com modernos meios, sensores e mísseis. O custo deve ficar entre R$ 859,4 milhões e R$ 2 bilhões.
7- Sistema de foguetes Astros II
Busca que o Exército tenha apoio de fogo de elevada capacidade, através do desenvolvimento de um míssil com alcance de até 300 km. Está em fase de acerto de contrato com a Avibras Indústria Aeroespacial e tem prazo médio de cinco anos para entrar em operação.
8- Guarani
Plano quer dotar o Exército de uma nova família de blindados, o Guarani, com mais tecnologia e resistência. A previsão é de que, em 20 anos, sejam comprados 2.040 blindados. O primeiro deles foi entregue em junho.
9- Terrorismo
O Exército possui um único destacamento, localizado em Goiânia, treinado para ações contra o terrorismo. A quantidade de equipamentos para detecção e contenção de armas químicas, nucleares, radiológicas e explosivos também é limitada. Segundo o general Walmir Almada Schneider Filho, do Estado-Maior do Exército, estão sendo adquiridos novos materiais para unidades em Goiás e no Rio de Janeiro. "Estamos trabalhando para ter mais gente capacitada para estes casos. Temos de estar preparados para qualquer ameaça. Há uma gama enorme delas", diz.
Livro Branco de Defesa Nacional apresenta os sete projetos prioritários do Exército (Foto: Reprodução) |
10- Missões de paz
Um centro de preparação das tropas para missões de paz foi criado no Rio de Janeiro para treinamento conjunto com a Marinha e a Aeronáutica. O Exército possui, atualmente, militares em 11 operações de paz da Organização das Nações Unidas (ONU), sendo a maior delas no Haiti, onde estão 1.900 soldados. Cinco oficiais fazem parte da missão de observadores do cessar-fogo na Síria.
11- Ações subsidiárias
Os militares brasileiros têm atuado cada vez em ações civis, no apoio em enchentes, em calamidades públicas, no combate à dengue e à febre aftosa. Segundo o Exército, "a demanda dos órgãos da administração pública aumentou", em especial para logística - transporte, alojamento, segurança e comunicações - e para campanhas de vacinação e sanitárias. "O Exército tem a obrigação de executar estas atividades quando houver interesse nacional", disse, em nota, a Força.
Sobre o uso de engenharia militar para construção de aeroportos e estradas, o Exército afirma que não trabalha como "balizador de preços da construção civil" e que as ações servem para instrução e preparação dos soldados.
12- Serviço militar obrigatório
A Estratégia Nacional de Defesa prevê que o serviço militar obrigatório seja realmente "obrigatório" e que, devido ao grande número de jovens dispensados anualmente da prestação, deveria ser criada uma espécie de serviço civil obrigatório. Segundo o Exército, os projetos para mudança ainda estão em tramitação no Ministério da Defesa e não há conclusão sobre o tema.
13 - Valorização profissional
As Forças Armadas apresentaram em março à Presidência uma proposta de reajuste do salário dos militares, que reclamam da defasagem. A última mudança no soldo-base do Exército foi estabelecida pela Lei nº 11.784, de 2008, e previa o reajuste até 1º de julho de 2010. O soldo do soldado recruta, por exemplo, é de R$ 492. Sargento recebe R$ 2.268, e segundo tenente ganha R$ 4.590. A remuneração mensal é formada, além do solto, por outros adicionais, como tempo de serviço, cursos, local de atuação e habilitações.
G1/montedo
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